Desenvolvimento socioemocional na infância: como estimular em casa

Desenvolvimento socioemocional na infância: como estimular em casa

A família é o primeiro (e principal) ambiente de desenvolvimento humano, no qual ocorrem as interações sociais da criança. Nela se inicia a aprendizagem de conceitos, regras e práticas culturais que fundamentam os processos de socialização e autoconhecimento. Ou seja, é na primeira infância que acontece o desenvolvimento socioemocional e por isso é fundamental que alguns pontos sejam trabalhados desde cedo com a família. Para papais e mamães que nunca refletiram sobre esse assunto, vale a leitura. Nesse texto, daremos dicas de como estimular as crianças em casa de forma simples para que elas cresçam saudáveis e felizes.

As habilidades socioemocionais referem-se à capacidade de identificar, entender e expressar as próprias emoções. E tal condição, quando bem estabelecida na infância, facilita o amadurecimento emocional e intelectual na fase adulta, pois auxilia no equilíbrio da razão e da emoção, tornando a criança mais segura ao tomar decisões, o que facilita nas questões que envolvem resolução de problemas e autonomia. Quanto antes ela souber controlar suas emoções melhor se desenvolverá e saberá lidar com os desafios e os problemas ao longo da vida.

5 competências socioemocionais que podem ser estimuladas na infância:

  1. Autoconsciência – capacidade de autoconhecimento. Refere-se a estar ciente de diferentes aspectos do “eu”, incluindo comportamentos e sentimentos;
  2. Autogestão – capacidade de utilizar esforços e estratégias para alcançar metas. Consiste também no gerenciamento eficiente de emoções, objetivos e tempo, incluindo principalmente autocontrole, persistência, disciplina, constância e confiança.
  3. Consciência social – respeito ao próximo e empatia;
  4. Habilidade de relacionamento – competência para solucionar conflitos de modo construtivo e respeitoso, ação ética, socialização e limites ao viver em sociedade;
  5. Tomada de decisão responsável – entendimento sobre responsabilização, escolhas, consequências, assim como a compreensão dos cenários e a previsão dos resultados.

Para diversos teóricos, os principais responsáveis pelo desenvolvimento socioemocional na infância são os primeiros contatos familiares. Os atributos pessoais e as práticas educativas desses cuidadores influenciam a qualidade do relacionamento com a criança que, por sua vez, pode afetar o desenvolvimento de comportamentos futuros tanto em casa quanto em outros ambientes.

Atualmente, além de capacitar o intelecto das crianças, também é necessário desenvolver suas habilidades socioemocionais para que as crianças cresçam de modo emocionalmente saudável e tornem-se adultos bem-sucedidos. Ou seja, desce cedo, é importante que as crianças aprendam a lidar com algumas situações que facilitarão inúmeras questões comportamentais no futuro. Exemplos de aprendizados interessantes para serem trabalhados em casa:

  • AUTOCONHECIMENTO: Ensinar a criança a nomear os sentimentos experimentados, diferenciá-los e buscar soluções adequadas para os diversos problemas enfrentados.

Uma das principais habilidades a serem aprendidas na infância diz respeito ao conhecimento sobre si mesmo. As principais características dessa capacidade são:

  1. defender os próprios direitos;
  2. fazer e recusar pedidos;
  3. expressar sentimentos negativos de raiva e desagrado;
  4. concordar ou discordar de opiniões;
  5. resistir à pressão de colegas;
  6. identificar sentimentos e saber lidar com cada um deles.

Na prática: se a criança acabou de ganhar um irmãozinho e está com dificuldade de expressar isso. Converse com ela, por exemplo, sobre ciúmes, tristeza, medo e insegurança. Mostre o que cada um representa e diga que a criança poderá externalizar tais sensações quando tiver necessidade. Assim, ela conseguirá demonstrar o que está sentindo e a família ajudará a conduzir essa emoção dando segurança, mostrando cuidado e respeito com tais dificuldades. Nomear os sentimentos ajudará imensamente a criança a gerir seu emocional. Uma dica boa também é ler com ela livros sobre sentimentos e emoções. Por meio da leitura, a criança poderá aprender que existem “emoções diferentes e estranhas” e aprenderá de forma lúdica a lidar com elas.

Dica: Existem diversos kits de livros infantis com o tema “sentimentos”. Cada livro aborda um assunto de maneira lúdica e com exemplos do cotidiano da criança.

Uma pessoa que sabe identificar suas emoções, possui o controle sobre elas e consegue entender a importância de suas atitudes tende a ser mais alegre e sofrer menos com as dificuldades da vida.

“O que eu gosto de fazer? Quais são minhas preferências? Devo ou não devo fazer isso?” Essas e outras inúmeras questões farão parte do dia a dia das crianças e é importante que elas conheçam a si mesmas para respondê-las da forma correta. Além é claro, de tomar a melhor decisão diante da dúvida. Assim, é possível ter mais foco no que realmente importa e traçar o melhor caminho para o futuro.

  • AUTOGESTÃO: Ajuda a criança a ter controle e organização tanto de sentimento e comportamentos, quanto dos objetivos e das dificuldades vivenciadas em cada etapa da vida. Trata-se da construção de hábitos, valores e estratégias que para sempre acompanharão a criança. Saber esperar, entender, não ficar nervoso ou impaciente são virtudes importantes para conseguir lidar com as situações, visto que as coisas nem sempre acontecem como gostaríamos.

Uma das formas de incentivar esse desenvolvimento é por meio de atividades lúdicas. Elas podem ser utilizadas em várias ocasiões devido à sua interdisciplinaridade. As brincadeiras e os jogos são direcionados de acordo com a idade e a capacidade de cada criança.

Características esperados em crianças que apresentam essa habilidade desenvolvida:

  1. Saber reconhecer suas emoções e de outras pessoas;
  2. conseguir expressar emoções positivas e negativas;
  3. controlar seu humor e lidar com seus sentimentos, de modo que consiga acalmar-se;
  4. tolerar frustação;
  5. não desistir ao menor sinal de dificuldade;
  6. Ser constante no que se propõe a fazer;
  7. Ter resistência para receber pressão.

Jogos de estratégia, cultua maker e competições esportivas são ótimos exemplos para se trabalhar a autogestão na infância. Por meio dessas atividades, os pequenos serão estimulados a desenvolver suas próprias ideias e agir de maneira criativa. Durante a brincadeira, os problemas deverão ser solucionados, preferencialmente, por eles. As estratégias para finalização do jogo ou do trabalho também deverão partir das crianças. Ou seja, deve-se fornecer ferramentas para que elas sejam protagonistas do seu aprendizado.

A criança capaz de exercer melhor a autogestão apresenta-se como alguém mais disciplinado, perseverante, eficiente e orientado para suas metas. Pessoas com autogestão bem desenvolvida têm mais facilidade em estruturar e gerenciar com cuidado e antecedência suas atividades. São pontuais, organizados e lidam bem com o tempo para se alcançar seus objetivos.

  • CONSCIÊNCIA SOCIAL: construção de comportamentos que vão além do ambiente familiar, como o respeito ao próximo. Designa a capacidade de entender seu papel em um contexto maior.

Características de comportamentos esperados para essa habilidade:

  1. prestar atenção quando alguém estiver falando;
  2. oferecer ajuda;
  3. compartilhar o que é seu;
  4. expressar compreensão pelo sentimento dos outros;
  5. demonstrar respeito às diferenças.

O papel dos pais é estimular reflexões sobre assuntos como solidariedade, empatia e preservação do meio ambiente. Além disso, dar bons exemplos. Sem dúvida, essa é a melhor forma de demonstrar como agir em determinadas situações. Portanto, ensine a criança a doar roupas e brinquedos quando não servir ou deixar de ser interessante para a sua idade. Deixe que ela participe tanto da separação das doações quanto da entrega.

Outra boa ideia: explique a necessidade de coletar lixos de forma correta e também de não jogar lixo na rua. Se engana que pensa que são conceitos dispensáveis na infância. Pelo contrário, nessas pequenas situações cotidianas as crianças criarão senso de comunidade e se sentirão úteis ao ajudar o próximo e ao meio ambiente.

Se colocar na perspectiva do outro e tentar compreender os sentimentos, emoções e angústias que se passam é uma forma de respeitar e entender que as coisas apresentam outros ângulos de entendimentos. Ter empatia é saber que todas as ações apresentam possibilidades e consequências. Desde pequeninos, as crianças poderão aprender a pensar no próximo e ajudar da forma que podem. Portanto, não podemos subestimar a inteligência emocional das crianças. Pelo contrário, temos que estimular o máximo possível, de acordo com cada faixa etária.

  • HABILIDADE DE RELACIONAMENTO: capacidade de se comunicar (de modo verbal e não verbal) e interagir de forma eficaz. Saber o que falar, quando falar, como usar palavras para agregar algo de bom às pessoas, como usar gestos, posturas e abraços, por exemplo. Ou seja:
  1. expressar cortesia;
  2. fazer e aceitar elogios;
  3. aguardar a vez para falar;
  4. cumprimentar pessoas e usar locuções como: obrigado, por favor e me desculpe.

Nesse ponto, é fundamental que se observe a conectividade exagerada com o mundo virtual, afinal, as crianças precisam entender que as relações humanas não são fundamentadas apenas por elementos “digitais”. Para isso, os valores devem ser internalizados desde a infância.

Crie momentos de interação com outras crianças. Deixe que elas brinquem, conversem e se resolvam. O ideal é intervir o mínimo possível, mesmo que haja alguns desentendimentos, como por exemplo, uma criança pegando o brinquedo da outra. Observe primeiro e dê tempo para que elas entrem em acordo sem a ajuda dos adultos.

Ensine a criança, desde cedo, a pensar nos amigos, primos e colegas de turma, mesmo quando não estiverem juntos. Isso permitirá que ela aprenda a valorizar os laços criados ao longo da vida. Incentive-o a escrever cartinhas, fazer desenhos, pintar quadrinhos, preparar um lanchinho gostoso para presentear as pessoas queridas.

  • TOMADA DE DECISÃO RESPONSÁVEL:  refere-se a escolha de uma ação feita pelo indivíduo frente a outras alternativas, visando a resolução de um impasse ou problema. Além disso, é uma oportunidade para entender possibilidades de ações, compreender cenários alternativos, prever e medir resultados.

Quando a criança aprende a decidir e a opinar, elas se tornam mais autônomas e confiantes. Apresentam uma boa autoestima e se tornam até mais dispostas a refletirem sobre o que é melhor diante do cenário que se encontram. Por isso, devemos oferecer as ferramentas necessárias para que consigam agir por conta própria e que se sintam satisfeitos com os resultados.

Sim, desde pequenos as crianças devem ter responsabilidades. Claro que sempre estarão de acordo com as fases da vida, mas é importante que elas sejam responsáveis e que entendam as consequências de seus atos. Isso faz com que as crianças consigam lidar com suas obrigações de maneira mais fácil.

Comece a treinar o “poder de escolha” durante algumas situações bem simples do cotidiano. Por exemplo, peça ajuda para decidir a roupa que a criança sairá para passear. Separe algumas opções e deixe que a criança escolha. De propósito, em um dia de muito calor, coloque uma roupa de frio no meio e deixe que ela pense se essa será a melhor escolha diante do clima. Caso escolha essa opção, faça perguntas sobre a roupa e deixe a criança observar que com essa, ela esquentará e ficará desconfortável.

Uma boa dica para as férias: faça uma lista de sugestões para realizarem durante esses dias. Diga que não será possível fazer tudo, pois você terá que conciliar as férias da escola com o trabalho. Deixe que as crianças escolham as atividades/passeios. Explique o que poderão ter em cada uma das opções, assim elas criarão uma ordem de preferências e saberão tomar sua decisão. A partir de situações simples como essas, a criança começará a compreender a importância de tomar uma boa decisão.

Aos poucos e conforme o crescimento de cada um, o nível das escolhas irá aumentar, assim como o senso de responsabilidade por suas decisões. Então, não demore para trabalhar a autonomia do seu filho. Ensine-o a tomar iniciativas e assumir riscos. Devolva questionamentos com perguntas (e não com a resposta pronta). Assim, a criança precisará refletir antes de agir. Diante das frustrações, converse sobre a importância de evoluir durante situações desconfortáveis. Oriente-o a buscar soluções melhores e a não desistir diante das dificuldades. Pelo contrário, trabalhe a superação de problemas.

Aqui, não tem jeito, é paciência e muita conversa. Explique detalhadamente o motivo de não fazer algo que a criança queira muito. Faça que a criança reflita com você porque tal situação não aconteceu como ela gostaria. Vá além, peça para a criança pensar em opções para resolver essa questão. Essa é o momento ideal para falarem sobre mudanças, estratégias e aprendizados.

Nos primeiros anos de vida da criança é esperado que solicitem ajuda dos familiares para resolução de problemas. Com o passar do tempo, é esperado que seu repertório de habilidades seja ampliado, assim como o “nível” de complexidade de suas escolhas e com isso, os pequenos passem a resolver os problemas sem ajuda ou com apoio mínimo nas situações mais complicadas. À medida que as crianças crescem, passam a fazer parte de outros contextos que lhes possibilitam novas experiências socioemocionais e cognitivas essenciais para o desenvolvimento saudável.

O Papel da Escola no Desenvolvimento socioemocional da criança

A escola é o segundo contexto de socialização da maioria das crianças e, portanto, representa um espaço de convívio social na qual são construídos vários tipos de relações. A presença dos professores, por exemplo, é de certa forma transitória, raramente resultando em interações duradouras como as que ocorrem com os familiares. Porém, devido ao seu papel de cuidador durante todo um ano letivo, o relacionamento proximal que ocorre no ambiente escolar possui uma influência significativa no desenvolvimento de competências e disfunções das crianças.

O relacionamento positivo com os professores pode tornar as crianças mais seguras para participarem das atividades e socializarem, favorecendo o melhor desempenho escolar e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. O clima escolar está relacionado à qualidade e à consistência das interações pessoais na escola, as quais influenciam o desenvolvimento cognitivo, social e psicológico dos alunos. Ou seja, tais atributos podem beneficiar ou prejudicar a formação integral da criança e por isso, na hora de escolher a escola, é importante que a família não se preocupe apenas com o conteúdo pedagógico oferecido na instituição. O ideal é que se conheça os projetos, a metodologia, os valores, a formação dos professores, as práticas de ensino, a estrutura organizacional e os espaços da escola para que a criança tenha a oportunidade de receber estímulos que agregarão em todas as áreas, inclusive nas questões socioemocionais. Esses aspectos refletem a qualidade do ensino e as características essenciais no ambiente escolar.

Quando positivo, o clima escolar é capaz de promover o desenvolvimento socioemocional dos alunos. Por outro lado, o clima escolar negativo, pode atuar como um fator de risco ao desenvolvimento saudável das crianças. Assim como em casa, se os estímulos são bons, o resultado é assertivo. Se são insuficientes, a criança abre lacunas cruciais para o futuro. Portanto, quando o trabalho é feito em sintonia, a família e a escola, juntas, são capazes de realizar um trabalho incrível durante a infância.

Essa parceria no processo de aprendizagem socioemocional das crianças é extremamente relevante, especialmente em se tratando de crianças pequenas (Educação Infantil). Na prática, isso significa oferecer na proposta curricular atividades nas quais as crianças tenham oportunidade de desenvolver e usar sua inteligência emocional. E mais, que esses direcionamentos estejam em conformidade com o que a criança vivencia em casa, a fim de que o aprendizado se confirme em ambos os ambientes e a criança não se sinta insegura.

Sendo assim, nosso objetivo é ter a família dentro da escola para desempenharmos um trabalho muito mais eficiência com as crianças. Um dos nossos pilares se baseia em cuidar do corpo e da mente, ou seja, por meio dele, investimos no desenvolvimento socioemocional dos alunos e de seus familiares, como comunicação, colaboração, perseverança, pensamento críticos, autonomia, trabalho em equipe, etc.

Na Casa de Brinquedos incentivamos as crianças a explorarem o mundo ao seu redor, por meio de brincadeiras, experimentação, diversão, resolução de problemas, leitura, projetos interdisciplinares, dinâmicas e outras diversas atividades lúdicas que ativam o imaginário de cada um. Desde muito pequenos, os alunos são direcionados para conhecerem seus sentimentos e se autorregularem de forma que resolvam seus problemas da maneira mais adequada naquela situação. As crianças aprendem a respeitar as diferenças, a enfrentar os desafios, a desenvolver habilidades, e claro, tudo de uma maneira natural e divertida.

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