O perigo de comparar o desenvolvimento do seu filho com outras crianças

Convenhamos que, comparar uma pessoa a outra, independentemente da idade em que ela se encontra, nunca foi e jamais será um bom incentivo. Imagina então fazer isso com crianças durante uma fase sensível na qual a formação do caráter e o desenvolvimento emocional estão em plena fase de construção. Se for para comparar alguém, que seja a mesma pessoa e suas próprias mudanças. Assim, será possível saber se houve um avanço em relação ao que era antes.  

Por exemplo, a criança não leu no tempo que imaginou? Ou foi a última da turma a conseguir? Tudo bem. Não tem problema se demorou mais que o previsto. A questão principal é saber se ela demonstrou desenvolvimento ao longo do ano letivo ou estava paralisada. Se em nenhum momento deixou de progredir e aprender, é isso que importa. No caso acima, muito provavelmente, a criança estava fortalecendo a noção espacial e ampliando a capacidade motora, ou seja, aspectos essenciais durante a alfabetização. Cada criança tem o seu próprio tempo, principalmente na primeira infância, mesmo que receba os mesmos estímulos.  

Inclusive, nascer na mesma família não é garantia de que as preferências entre os irmãos serão parecidas. Nada impede que duas crianças que se criaram juntas sejam completamente diferentes, tanto nas emoções quanto em outras características, como preferência musical, estilo das roupas e hobbies. 

Quem nunca ouviu uma mãe contar que teve experiências diferentes com cada filho? Certamente todos já escutaram relatos assim. Algumas crianças demonstram facilidade em áreas motoras primeiro, outras desempenham habilidades cognitivas depois. Não tem certo e errado. Todavia, quando alguns marcos não ocorrem no tempo “considerado convencional”, muitos pais acabam ficando frustrados e transmitindo esse sentimento para a criança.  

Por mais simples e sútil que possa parecer, quando a comparação é feita, a criança pode pensar que não é capaz. Em médio e longo prazos, pode gerar inúmeros danos para sua autoconsciência. Ou seja, sua capacidade de identificar e saber lidar com as emoções e sentimentos pessoais será prejudicada. 

Esse é o perigo: uma comparação realizada na infância pode causar traumas quando adultos. E mais, ao criar um referencial “ideal”, é possível que o não atingimento desse padrão gere um sentimento de inadequação tanto para os familiares, quanto para os pequenos. Consequentemente, a sensação de fracasso e infelicidade. 

 

A fase da primeira infância é rica em descobertas, transformações e construções. Uma dessas construções, por exemplo, é a busca por autonomia (característica essencial para o desenvolvimento sadio das crianças e tema de um dos nossos textos publicado recentemente aqui). Tal condição possui aspectos incompatíveis com a comparação. Ou seja, quando uma criança é comparada a outra, nasce dentro dela uma angústia, por se sentir inferior e incapaz. E não atinge somente uma das partes com sentimentos ruins, a criança “referente” assume um lugar de não mais poder errar e “ter que ser” sempre a referência. Ou seja, uma autocobrança excessiva e inútil ao ponto de vista racional, além é claro, do possível surgimento de uma rivalidade entre os dois. 

“Seu irmão é mais focado nos estudos” ou “gostaria que sua irmã fosse tão organizada quanto você” são frases comuns, com aparência inofensiva, mas extremamente desnecessárias.  

 

Ouvir dos familiares tais palavras (que no universo adulto pode soar como incentivo) tem grande poder de destruição na vida de uma criança. Analisando essa fala comparativa com as características da fase de construção da autonomia, não há nenhuma chance dos seus resultados ficarem juntos. Ou seja, no momento que seria adequado para se trabalhar a autonomia e a independência, a criança poderia vir a se fechar em seu mundo e se tornar insegura por medo ou agressiva por defesa. Com isso, o cenário mudaria totalmente e os sentimentos ruins limitariam aprendizados importantes relacionados ao autoconhecimento e à gestão das emoções. 

Claro que tudo isso acontece sem que se perceba, pois a forma de se referir ao outro, muitas vezes, entra no “modo automático” e muitos comportamentos vivenciados em nosso dia a dia passam desapercebidos. Sem nem imaginar, adultos colocam as crianças em situações perigosas ao compará-las com colegas ou familiares. Não sabe como agir e o que fazer? 

Grave no coração: comparar as crianças não é algo saudável. 

Algumas comparações são feitas pelos adultos de forma natural e quase imperceptível, então fique atento. Mesmo as “comparações boas” que destaquem um ponto positivo, podem não ser tão legais quanto parecem. 

“Maria sempre foi muito tranquila e João dorminhoco. Ela não chorava quase nada, mas dormia tão pouco. Ele sempre chorou muito, mas em compensação dormia bastante”. 

Pense no efeito dessa frase.  

Logo após ouvi-la, podem surgir sentimentos como ansiedade, insegurança, raiva, vergonha e até autodepreciação. Até porque, a maioria das comparações só gera desconforto e não traz nenhum ensinamento.   

No caso da comparação entre filhos, é importante lembrar que as crianças querem ser amadas e aceitas por seus pais. Então, quando uma comparação acontece, existe a chance de um dos filhos sentir que não tem o mesmo nível de admiração dos pais e abrir margem para emoções negativas como frustração e rivalidade. Se as comparações são habituais dentro da família, chegou a hora de mudar a abordagem para que não haja consequências na relação entre os irmãos pelo resto da vida. 

Quem é pai ou mãe pode estar pensando que nunca tenha feito comparação entre os filhos. E muito menos que tenha sido maldosa. A intenção pode não ter sido mesmo. Contudo, é importante refletir, pois, como citado acima, certas comparações acabam surgindo de forma muito natural, a ponto de passarem despercebidas. 

‘Na gravidez do Pedro, me senti super disposta e não tive nenhum problema físico, porém, na gestação do Miguel… que sufoco! Enjoos constantes, cansaço triplicado e desconfortos na hora de dormir me acompanharam do início ao fim”. 

Não parece, né? Mas isso foi uma comparação. No subconsciente da criança, isso pode virar um: “nossa, desde a barriga da minha mãe, dou mais trabalho que meu irmão. Sou um peso na vida dela”. 

Também tem a clássica: “Seu irmão come tão bem, por que você não faz como ele e raspa o prato?” Esse é o tipo de comparação que parece totalmente inofensiva para os adultos, afinal de contas, ela parece servir apenas para motivar um filho que come mal. Porém, é preciso analisar que nem todas as pessoas têm o mesmo apetite e muito menos a mesma preferência por alimentos. O resultado dessa comparação pode ser prejudicial à saúde, pois a partir disso, a criança poderá sentir-se como um ser inferior e para não desagradar seus pais, se forçará a comer “além da conta”.  

 

Mais uma frase comum: “Seu irmão não chora para tomar vacina. Você também será corajoso, não é?” Novamente, estamos diante de uma comparação que os pais julgam ter apenas efeitos positivos. Ela é usada para tentar dizer algo como “não dói nada”, contudo, ao usar um irmão na comparação, os pais fazem com que a criança sinta que seu medo está sendo julgado e diminuído. 

 

Por que comparar? Em vez disso, estimule a coragem, respeite as limitações, acolha o medo e ajude na superação dessa dificuldade sem usar alguém como exemplo. 

Em diversos momentos, o irmão (que se sente inferior) busca aceitação dos pais e tenta atingir o mesmo “nível” de sucesso que ele julga ver no outro. E por muitas vezes ele se frustra. Claro. Não há como ser exatamente igual a ninguém. A comparação dos sucessos é algo muito pesado e triste. Ou seja, aquilo que deveria servir de estímulo positivo, gera mais insegurança e rivalidade. E, se os pais não tiverem a sensibilidade de perceber essa situação o quanto antes, mas distantes os filhos ficarão. 

Importante frisar que nem sempre a comparação acontece entre irmãos. Ela pode envolver primos, vizinhos, amigos, colegas de turma, etc. Mesmo se tratando de crianças que não moram juntas, as rivalidades também podem prejudicar o relacionamento entre elas e claro, a condição emocional dos envolvidos. 

6 Dicas para evitar a comparação e transtornos emocionais nos pequenos: 

 

  1. Nunca esqueça que nenhuma pessoa é igual a outra. Ter isso em mente é fundamental para evitar comparações inúteis, que refletem apenas, por exemplo, preferências pessoais, como gostar mais de matemática do que de geografia ou preferir ver filme a sair com amigos; 
  2. Não compare com os outros, compare a criança com ela própria. Em vez de falar algo como “hoje você está nadando tão bem quanto seu amigo nadava”, opte pela comparação entre o passado e o presente (a evolução do início até aquele momento). Ou seja, é melhor dizer algo como “lembra quando começou as aulas de natação, filho? Como seu desempenho melhorou! Parabéns”; 
  3. Aceite com leveza as diferenças. Por exemplo, se você ama sertanejo, detesta rock e tem um filho metaleiro, não há nada de errado no gosto musical dele. Se trata apenas de uma preferência diferente da sua. Então tenha cuidado com esse tipo de situação e evite julgamentos perante algo com o qual você não se identifica tanto; 
  4. Seja empático e se coloque no lugar do outro. Se a tentação de realizar uma comparação entre as crianças surgir, pare um momento e reflita sobre os efeitos dessa informação sobre as crianças: “realmente é necessário? Será que ela realmente ensina algo?”; 
  5. Se livre das expectativas. Se você tem um filho com uma habilidade incrível para área de tecnologia e agora está percebendo que seu outro filho pequeno não gosta de nada parecido, será que vale a pena criar as mesmas expectativas? Não faz sentido, não é mesmo? Parte das comparações aparecem pois espera-se de uma criança o mesmo resultado que a outra ofereceu, e nem sempre isso vai acontecer. Na verdade, na maioria das vezes, não será igual; 
  6. Destaque as qualidades. Elogiar a criança, principalmente durante a educação infantil, ajuda bastante no processo de aprendizagem. Além disso, o uso de elogios por comportamentos desejáveis leva a repetição de ações semelhantes e eleva a autoestima. 

Aproveite também para mostrar para a criança que ser diferente é algo valioso, pois é o que torna cada ser humano único. Então, não há nenhuma necessidade dele mesmo se comparar a alguém. 

 

Na Escola Casa de Brinquedos… 

 

Trabalhamos com as singularidades de cada criança. Desde cedo, ensinamos que somos diferentes, temos características únicas e isso nos torna especial. Não há comparativos ou ranking durante o processo da aprendizagem, até porque entendemos que todas as crianças possuem tempos distintos e até mesmo dependem de processos específicos para aprender. O que pode ser fácil para um, pode ser mais complicado para o outro. O mesmo conteúdo pode ser ofertado para o aluno que sentiu dificuldade de outra maneira, utilizando outras ferramentas. Isso não torna ninguém melhor ou pior. Isso faz parte do que entendemos ser essencial dentro da metodologia de ensino que permite a inclusão de todos.  

 

Nossos projetos são interdisciplinares, então, ao mesmo tempo que trabalhamos Língua Inglesa ou ciências, temos a oportunidade de praticar a empatia, o respeito ao próximo e as habilidades socioemocionais. Tais capacidades permitem que a criança tenha um desenvolvimento completo, visto que além do pedagógico, oferecemos experiências essenciais para a vida.  

 

Investimos no crescimento saudável e feliz das crianças! Afinal, durante a infância, é essencial que elas tenham em sua base estímulos variados, tanto físicos quanto cognitivos. Em vista disso, trabalhamos de forma lúdica e envolvemos os nossos pequenos em toda a jornada de experiências, respeitando suas individualidades e criando oportunidades para que se sintam seguros em todas as fases do aprendizado. 

 

Ficou interessado em conhecer a nossa metodologia? Marque uma visita e venha conhecer os nossos diferenciais. Nossa missão é inovar o aprendizado sempre preservando a infância. 

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